Nas vésperas da MC fazer um mês, voltei ao médico para uma consulta de "revisão do parto."
No fundo saber se estava tudo bem, como tinha sido a recuperação e se podia retomar a vida normalmente - em especial quanto ao exercício físico.
Estava absolutamente descontraída porque me sentia lindamente. Nos primeiros dias depois do parto tinha ainda algum desconforto, mas quinze dias depois estava já totalmente operacional, sem qualquer dor ou impressão. Dizer só que os quinze dias não são exemplificativos; houve mesmo um momento em que, conscientemente, avaliei o meu estado e concluí que me sentia bem, sem qualquer efeito pós parto. Tinham passado exactamente duas semanas.
Foi por isso com total descontração que fui à consulta um mês depois.
Foi também por causa disso que fiquei altamente surpreendida com o resultado dessa consulta que, diga-se desde já, me pôs na sala de operações três dias depois.
Na ecografia - de rotina - foi detectado um pequeno fragmento de placenta no útero.
Fenómeno ao que parece bastante raro e alegadamente não detectável no pós parto natural.
O procedimento para remoção é também bastante simples e sem quaisquer implicações no futuro, sendo que não retirar os fragmentos é que pode, isso sim, impedir uma futura gravidez. Há casos em que causa hemorragias e febres altas mas no meu caso não tive qualquer sintoma.
Ainda assim, obriga a anestesia geral e a uma ida ao bloco.
Fiquei em pânico com a ideia da anestesia. Nunca fui operada a nada - aliás o parto foi a minha primeira experiência clínica - e assustava-me a ideia de não acordar, de perder a memória, ficar sem andar. Um desenrolar de tragédias. Na minha cabeça só me lembrava da cirurgia de altíssimo risco que a minha mãe fez (há quase vinte anos), em que disse ao anestesista: "eu tenho dois filhos. Tenho de acordar." Também tenho uma filha. E um marido. E uma família. Por favor, por favor que não fique estendida no bloco!
Três dias depois estava a dar entrada no hospital onde um mês antes tinha sido imensamente feliz, com médicos e enfermeiros a dizerem que só me esperavam ali daqui a um ano ou dois, para o segundo filho. Eu também..!
Eram nove e pouco da manhã e estava no bloco, para um procedimento que deveria ter durado vinte minutos e acabou por demorar duas horas, devido a algumas complicações. A parte boa de estar a dormir nessa altura é não me ter apercebido de nada disto; complicação é coisa que não queremos ouvir numa hora destas.
Ao que parece - fenómeno ainda mais raro - os milímetros de placenta que lá ficaram colaram de tal maneira às paredes do útero que retirá-los tornou-se um desafio. Tão desafiante até que o médico teve de ligar a um colega para ir lá auxiliar num outro procedimento qualquer - que acabou depois por não ser necessário.
Não ganhei para o susto.
Dei o meu estado saudável como adquirido e esta operação fez-me pôr em causa algumas certezas. Certamente não voltarei à consulta com um espírito tão leve.
Ainda assim, foi-me garantido que tudo tinha corrido bem, sem qualquer vestígio de placenta e tudo em correcto funcionamento.
De assinalar no meio disto tudo que me custou incomparavelmente mais o pós operatório desta cirurgia do que de todo um parto. Portanto, pôr crianças no mundo é mais fácil do que expelir restos de placenta - e lamento se isto é demasiado gráfico. Levantar-me depois desta operação foi um desafio em seis actos. Cada vez que tentava pôr-me em pé, tinha uma quebra de tensão que me obrigava a deitar outra vez. Quando finalmente me levantei e andei dois passos, caí redonda no chão - amparada pelas enfermeiras, do mal o menos, que evitaram demais lesões. Só ao fim de longas horas consegui sair da cama e ir de cadeira de rodas até ao carro para ir embora. Uma aventura em bom.
De futuro, em qualquer parto que venha a ter não deixo o hospital sem garantir que tiraram tudo o que era suposto tirar e que não fica qualquer bocadinho para contar uma história igual a esta. Deixo a dica.
No fundo saber se estava tudo bem, como tinha sido a recuperação e se podia retomar a vida normalmente - em especial quanto ao exercício físico.
Estava absolutamente descontraída porque me sentia lindamente. Nos primeiros dias depois do parto tinha ainda algum desconforto, mas quinze dias depois estava já totalmente operacional, sem qualquer dor ou impressão. Dizer só que os quinze dias não são exemplificativos; houve mesmo um momento em que, conscientemente, avaliei o meu estado e concluí que me sentia bem, sem qualquer efeito pós parto. Tinham passado exactamente duas semanas.
Foi por isso com total descontração que fui à consulta um mês depois.
Foi também por causa disso que fiquei altamente surpreendida com o resultado dessa consulta que, diga-se desde já, me pôs na sala de operações três dias depois.
Na ecografia - de rotina - foi detectado um pequeno fragmento de placenta no útero.
Fenómeno ao que parece bastante raro e alegadamente não detectável no pós parto natural.
O procedimento para remoção é também bastante simples e sem quaisquer implicações no futuro, sendo que não retirar os fragmentos é que pode, isso sim, impedir uma futura gravidez. Há casos em que causa hemorragias e febres altas mas no meu caso não tive qualquer sintoma.
Ainda assim, obriga a anestesia geral e a uma ida ao bloco.
Fiquei em pânico com a ideia da anestesia. Nunca fui operada a nada - aliás o parto foi a minha primeira experiência clínica - e assustava-me a ideia de não acordar, de perder a memória, ficar sem andar. Um desenrolar de tragédias. Na minha cabeça só me lembrava da cirurgia de altíssimo risco que a minha mãe fez (há quase vinte anos), em que disse ao anestesista: "eu tenho dois filhos. Tenho de acordar." Também tenho uma filha. E um marido. E uma família. Por favor, por favor que não fique estendida no bloco!
Três dias depois estava a dar entrada no hospital onde um mês antes tinha sido imensamente feliz, com médicos e enfermeiros a dizerem que só me esperavam ali daqui a um ano ou dois, para o segundo filho. Eu também..!
Eram nove e pouco da manhã e estava no bloco, para um procedimento que deveria ter durado vinte minutos e acabou por demorar duas horas, devido a algumas complicações. A parte boa de estar a dormir nessa altura é não me ter apercebido de nada disto; complicação é coisa que não queremos ouvir numa hora destas.
Ao que parece - fenómeno ainda mais raro - os milímetros de placenta que lá ficaram colaram de tal maneira às paredes do útero que retirá-los tornou-se um desafio. Tão desafiante até que o médico teve de ligar a um colega para ir lá auxiliar num outro procedimento qualquer - que acabou depois por não ser necessário.
Não ganhei para o susto.
Dei o meu estado saudável como adquirido e esta operação fez-me pôr em causa algumas certezas. Certamente não voltarei à consulta com um espírito tão leve.
Ainda assim, foi-me garantido que tudo tinha corrido bem, sem qualquer vestígio de placenta e tudo em correcto funcionamento.
De assinalar no meio disto tudo que me custou incomparavelmente mais o pós operatório desta cirurgia do que de todo um parto. Portanto, pôr crianças no mundo é mais fácil do que expelir restos de placenta - e lamento se isto é demasiado gráfico. Levantar-me depois desta operação foi um desafio em seis actos. Cada vez que tentava pôr-me em pé, tinha uma quebra de tensão que me obrigava a deitar outra vez. Quando finalmente me levantei e andei dois passos, caí redonda no chão - amparada pelas enfermeiras, do mal o menos, que evitaram demais lesões. Só ao fim de longas horas consegui sair da cama e ir de cadeira de rodas até ao carro para ir embora. Uma aventura em bom.
De futuro, em qualquer parto que venha a ter não deixo o hospital sem garantir que tiraram tudo o que era suposto tirar e que não fica qualquer bocadinho para contar uma história igual a esta. Deixo a dica.
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